O pós-colonialismo. Fluidez de discursos que se misturam, um estado de coisas multicultural que parece estar sempre para jogo, caribenhos comendo comida curda. E uma ordem econômica subjacente: aquela do trabalho. Acabou o império britânico: vamos trazer o império britânico para trabalhar em Londres. A produção capitalista precisa de corpos para o trabalho - não mais na África, entre os africanos em Londres. O multiculturalismo acaba na monocultura do trabalho. O leste europeu entrou no império. A China é um protetorado - ou era, até chegar a crise. A crise isenta o ocidente (o porto seguro e de referência para as Classes Médias Globais, donas do planeta) de proteger a China; um bom negócio para quem tem dívidas com o vassalo é se declarar insolvente. O que pode fazer o vassalo? Nem passa pela cabeça dos chineses invadirem os Estados Unidos uma vez que todo mundo, diz a monocultura, é livre para comprar quando quiser. Cabe aos Chineses com seu trabalho suprirem o mercado. Grandes
plantations: de mão de obra bruta e lapidada. Como sempre, não existe capital sem trabalho. A estrutura pós-colonial abre também umas fissuras novas, há outros esbarrões, outras microculturas. Mas não é bem que o pós-colonialismo não é colonialista.
O Brasil é um império de si mesmo - tem mão de obra para produtos a serem vendidos baratos no centro do mundo e para abastecer sua Classe Média Global que não precisa importar uma comunidade armênia, indiana ou nigeriana para o centro do Rio. O senso de integração nacional - monoculturalíssimo - não foi suficiente para que o senso de harmonia e consenso tranquilizassem todos. Mas há outros mecanismos para a monocultura do trabalho se estabelecer: mafias, extermínios, bope, indústria cultural, um forte senso de baixa cultura. Aqui também há infiltraçoes, erros de cálculo. Mas não é bem que por aqui estamos alheios ao colonialismo.
É assim, é?